Informação especial - 25/05
Ascensão do Senhor: envio e encorajamento
Celebramos neste domingo, 24 de maio, queridos irmãos e irmãs, a
Solenidade da Ascensão do Senhor. Bem como o Dia Mundial das Comunicações
Sociais, o início da Semana de Oração pela unidade dos cristãos, o dia de Nossa
Senhora Auxiliadora, Co-Padroeira da estimada Arquidiocese de Niterói e, netsa
segunda-feira, 25 de maio, celebramos com alegria e gratidão os 45 anos de
Ordenação Episcopal de Dom Alano, nosso Arcebispo Emérito. Muitos motivos e
intenções nos reúnem em torno deste Altar. Como não recordar, trazer e unir ao
Sacrifício Redentor de Cristo, os milhares de falecidos, vítimas da Covid-19,
seus familiares, os doentes internados e os que aguardam por UTI, os
profissionais da saúde, os trabalhadores de serviços essenciais, nossos
governantes, pesquisadores e toda a humanidade, que sofre neste período de
pandemia. Rezemos! Solidariedade e esperança sempre!
Apesar deste dramático momento de dor e sofrimento, São Leão
Magno nos ensina que “como na solenidade pascal, a ressurreição do Senhor foi
para nós motivo de grande júbilo, agora também a sua ascensão aos céus nos
enche de imensa alegria. Pois recordamos e celebramos aquele dia em que a
humildade da nossa natureza foi exaltada, em Cristo, e associada ao trono de
Deus Pai. Na verdade, tudo o que na vida de nosso Redentor era visível, passou
para os ritos sacramentais. A fé é aumentada com a Ascensão do Senhor e
fortalecida com o dom do Espírito Santo. Esta fé expulsou os demônios, afastou
as doenças, ressuscitou os mortos”. Agora, sem a presença visível do seu corpo,
podemos compreender claramente, com os olhos do espírito, que aquele que ao
descer à terra não tinha deixado o Pai, também não abandonou os discípulos ao
subir para o céu. A partir de então, Jesus deu-se a conhecer de modo mais
sagrado e profundo como Filho de Deus. Por conseguinte, a nossa fé começou a
adquirir um maior e progressivo conhecimento e a não mais necessitar da
presença palpável da substância corpórea de Cristo” (Dos Sermões de São Leão
Magno, papa, Séc.V).
Na mesma direção se expressa Santo Agostinho: “Hoje, Nosso
Senhor Jesus Cristo subiu ao céu; suba também com Ele o nosso coração. E assim
como Ele subiu sem se afastar de nós, também nós subimos com Ele. Cristo já foi
elevado ao mais alto dos céus; contudo, continua sofrendo na terra, através das
tribulações que nós experimentamos como seus membros. Cristo está no céu, mas também
está conosco; e nós, permanecendo na terra, estamos também com Ele. O Senhor
Jesus Cristo não deixou o céu quando de lá desceu até nós; também não se
afastou de nós quando subiu novamente ao céu. Isto foi dito para significar a
unidade que existe entre Ele, nossa cabeça, e nós, seu corpo” (Dos Sermões de
Santo Agostinho, bispo, Séc. V).
Jesus, no Evangelho da Ascenção, nos confiou uma nobre missão.
Toca agora a nós, com Ele, Nele e por Ele, comunicar o Evangelho, a Boa
Notícia, por meio de palavras e atos, como nos orienta São João: Filhinhos, não
amemos com palavras nem com a boca, mas com ações e em verdade (1 Jo 3,18). A
Obra é Dele, somos “cooperadores de Deus e como que seus intérpretes” (GS,
n.50) à luz, é claro, do Espírito Santo, que nos conduz e conduz a Igreja.
Podemos nos perguntar: o que Jesus quer de mim e de nós hoje?
A Ascensão de Jesus ocorre no Monte das Oliveiras, lugar de
angústia, suor e vitória. Como não recordar, neste local, a agonia de Jesus, o
quinto mistério doloroso do Santo Terço, quando durante a oração intensa e
insistente de Jesus, “seu suor tornou-se como gotas de sangue que caíam no
chão”.
Sabemos e experimentamos que as cruzes e as angústias fazem
parte da vida. Nossa vida também é assim! O mesmo lugar de dor, como foi o Monte
das Oliveiras, pode se transformar em lugar de vitória e encorajamento. E a
vida segue, com maior responsabilidade e comprometimento! A certeza é de que
Ele está no meio de nós. Depois da agonia, vem a alegria. Essa é a promessa de
Cristo!
Após sua Paixão, Morte e Ressurreição, Jesus volta vitorioso,
dizendo: “Recebereis o poder do Espírito Santo, que descerá sobre vós, para
serdes minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judeia e na Samaria, e até os
confins da terra. Depois de dizer isto, Jesus foi levado ao céu, à vista deles.
Uma nuvem o encobriu, de forma que seus olhos não mais podiam vê-lo”.
Nessa missão, dada a nós pelo Ressuscitado, sentimos a
grandiosidade e exigências da tarefa recebida. Escutemos o Mestre e acolhamos
essa missão como nossa! Jesus aproximou-se e falou: “Toda a autoridade me foi
dada no céu e sobre a terra. Portanto, ide e fazei discípulos meus todos os
povos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, e
ensinando-os a observar tudo o que vos ordenei! Eis que eu estarei convosco
todos os dias, até ao fim do mundo”.
Enquanto peregrinamos para a Casa do Pai, nossa espera pelo
Senhor deve ser ativa e vigilante. Não podemos cair na tentação do desânimo e
do imobilismo, especialmente nesse tempo de pandemia e situação adversa em
várias áreas. Caminhar é preciso! O amor nos move… Ouçamos o que diz o texto da
Primeira Leitura deste domingo: “Os apóstolos continuavam olhando para o céu,
enquanto Jesus subia. Apareceram então dois homens vestidos de branco, que lhes
disseram: ‘Homens da Galileia, por que ficais aqui, parados, olhando para o
céu? Esse Jesus que vos foi levado para o céu, virá do mesmo modo como o vistes
partir para o céu’”. Precisamos buscar as coisas do Alto, desejar o céu,
contudo, sem romper com os compromissos e responsabilidades, justas e
necessárias, que nos santificam no cotidiano da vida e da vivência da fé em
Cristo.
Aqui aparece fortemente o tema da esperança cristã, uma virtude
teológica com a qual o Bom Deus nos concede a capacidade de viver o presente,
com o olhar fixo em nosso destino final. Esperamos o encontro definitivo com o
Senhor da Vida e a Vida Eterna!
Por essa razão, emergem hoje os temas da Escatologia e Parusia:
o fim dos tempos e Segunda Vinda de Cristo, respectivamente. Desses dois
fundamentais temas, vem uma força mobilizadora para o testemunho pessoal e
missão. O olhar para o futuro incide diretamente no nosso presente e no modo de
viver. Na segunda Leitura, São Paulo diz: “Que Ele abra o vosso coração à sua
luz, para que saibais qual a esperança que o Seu chamamento vos dá”.
A Esperança não decepciona e nos mantém em pé, na estrada de
Jesus. Já a desesperança pode desembocar, tanto na “presunção” quanto na
“resignação”, como já nos alertava J. Moltmann, em sua “meditação sobre a esperança”
(1971). Ele propõe que se retome, urgentemente, a “eficácia mobilizadora” da
escatologia cristã: “A teologia correta deve ser pensada a partir de sua meta futura.
A escatologia não deve ser o seu fim, mas o seu princípio”. Por essa razão,
precisamos olhar para o futuro, para o alto, sem romper com o presente e a
realidade concreta, para assim continuar com fidelidade a missão que o Senhor
Jesus nos confiou. Ele voltará… e quer nos encontrar fazendo o bem! Não podemos
nos distanciar da realidade na qual estamos inseridos. Antes, precisamos tocar
a realidade com a Luz de Cristo e nossas boas obras. Urge desejar e buscar o
céu, porém, sem deixar de continuar a missão de Jesus e de viver a
responsabilidade pela vida e justiça.
O Papa Bento XVI, na Spe Salvi, integra e relaciona o presente e
o futuro: “A fé não é só uma inclinação da pessoa, para realidades que hão de
vir, ela dá-nos algo. Dá-nos já agora algo da realidade esperada. Ela atrai o
futuro para dentro do presente. O fato de este futuro existir, muda o presente;
o presente é tocado pela realidade futura, e assim as coisas futuras
derramam-se naquelas presentes e as presentes nas futuras” (Bento XVI, 2007,
Spe Salvi, n.7).
Jesus volta para o Pai. Em seu discurso de despedida, assim
falou: “Eu saí do Pai e vim ao mundo; e novamente parto do mundo e vou para o
Pai” (Jo 16,28). E nos encorajou dizendo: “Não se perturbe o vosso coração.
Tendes fé em Deus, tende fé em mim também. Na casa de meu Pai há muitas
moradas. Se assim não fosse, eu vos teria dito. Vou preparar um lugar para vós,
e quando eu tiver ido preparar-vos um lugar, voltarei e vos levarei comigo, a
fim de que onde eu estiver estejais também vós” (Jo 14, 1-3).
Não estamos órfãos e abandonados! Estamos hoje com Ele e após a
morte também estaremos com Ele. Onde está Jesus, estaremos nós! Essa é a nossa
fé!
Existem quatro lugares privilegiados da presença de Jesus:
Presença real de Jesus na Eucaristia; Ele está presente também na Palavra; no
irmão e necessitado, amar e cuidar, “eu tive fome…” na comunidade, “onde dois
ou mais…”.
Uma questão para a nossa reflexão: onde buscamos e encontramos
Jesus? Precisamos integrar esses quatro lugares de encontro, priorizando, é
claro, a Eucaristia, o ápice da vida cristã. A Eucaristia é a presença de Cristo
por excelência, contudo não é a única. Existe uma inegável conexão entre
Eucaristia, serviço desinteressado e amor concreto ao próximo. Amanhã
completaremos 70 dias, em nossa Arquidiocese, sem a participação presencial na
Santa Missa. Sentimos falta, sofremos, é claro! Além da Comunhão Espiritual,
enquanto não voltamos, podemos também, neste período e, especialmente, neste,
buscar e encontrar Jesus na Palavra de Deus, na oração, na família, nos
diálogos virtuais, na prática da solidariedade e na disseminação do amor;
jamais do ódio e desrespeito ao próximo. O amor a Deus e ao próximo segue o
Mandamento Maior. Precisamos ensinar e observar tudo o que Ele nos ordenou!
Jesus volta para o Pai, nos envia o Espírito Santo prometido e
nos capacita para fazer boas obras, como exigência da fé nEle. Disse Jesus: “Em
verdade, em verdad,e vos digo: quem crê em mim fará as obras que eu faço, e
fará ainda maiores do que estas, pois eu vou para o Pai. E o que pedirdes em
meu nome, eu o farei, a fim de que o Pai seja glorificado no Filho” (Jo 14,12).
E no Sermão da Montanha, nos ensina: “Assim também brilhe a vossa luz
diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem o vosso
Pai, que está nos céus’ (Mt 5,16).
Temos, portanto, junto do Pai e ao nosso lado, um Intercessor e
um Companheiro de caminho! Cabe a nós observar seus ensinamentos, buscar
constantemente a paz, jamais o conflito, seguir perseverante no bem e na busca
da santidade.
Jesus, antes de entrar em Jerusalém para realizar a nossa
Salvação, chora sobre a cidade e diz: “Se tu também reconhecesses, hoje, aquilo
que conduz à paz! Agora, porém, isso está escondido aos teus olhos”. Dias de
sofrimento virão, “porque não reconheceste o tempo em que foste visitada” (Lc
19, 41.44).
É hora de acolher Jesus e os seus ensinamentos. Ele nos oferece
a paz verdadeira e duradoura, também em tempos de pandemia. Jesus sobe aos
Céus, mas continua nos visitando e oferecendo caminhos para uma convivência
melhor, mais humana, solidária, justa e fraterna.
Por essa razão, pensemos agora no atualíssimo tema da unidade.
Disse Jesus: “Pai, que todos sejam um! Que também eles estejam em nós, a fim de
que o mundo creia” (Jo 17,21). Estar com Cristo implica estar com os irmãos e
buscar, incessantement,e a unidade e a paz, mesmo, e sobretudo, nas situações
de tensões e conflitos. Diz o Hino: “Ele faz de céus e terra uma pátria de
unidade”.
Iniciamos neste domingo, a “Semana de Oração pela Unidade dos
Cristãos”, com o tema “Gentileza gera gentileza”, inspirado no texto do Atos dos
Apóstolos 28,2, quando Paulo, após sobreviver a um naufrágio e já fora de
perigo, diz: “Os nativos demonstraram extraordinária gentileza para conosco e
acolheram a nós todos, não sem acender uma fogueira, por causa da chuva que
caía e do frio”. Gentileza gera gentileza! É hora de resgatar a cordialidade, a
comunicação não violenta, os bons sentimentos, a sadia relação interpessoal, o
diálogo, o respeito, a tolerância e, acima de tudo, o amor que habita em nós. É
hora de demonstrar gentileza e atitude de vigilância, tendo consciência dos
nossos limites, da força do mal e das tentações diabólicas que causam divisões.
É hora de acender uma fogueira para aquecer e cuidar, nunca para incendiar
ainda mais o ambiente. É hora de resistir, recriar, restaurar e “pascalizar” o
ambiente, atingido pelo vírus, ferido pelo mal, que deve ser reconciliado pelo
amor, unidade e solidariedade concreta.
Nossa Senhora Auxiliadora, nossa Co-Padroeira, interceda por nós
e nos ajude nesta batalha contra o Coronavirus, e nas outras batalhas
emergentes e persistentes. Por fim, não podemos deixar de pedir: Fica conosco
Senhor!!! Na certeza de que Ele está no meio de nós. Vamos em frente… toca a
nós… coragem!
Dom Luiz
Antonio Lopes Ricci (Bispo eleito de Nova
Friburgo/RJ)
Adaptado por: Patricia
Angelica