Crônica da Semana - QUEBROU A CARA

QUEBROU A CARA 

“...“menino na rua” não significa que seja “menino de rua”!”

Eram três horas da tarde, fui à padaria do Sô Antenor. O pão fresquinho ainda não estava pronto. Se eu quisesse, poderia levar pão feito de manhã, era mais barato. Preferi pão quentinho. Enquanto eu esperava, um garoto do meu tamanho e, certamente, com a mesma idade minha estava muito concentrado na vitrine dos doces. Lá tinha doce de todo tipo. O garoto praticamente não piscava. Pela simplicidade de sua roupa e de seu chinelo de dedo amarrado com arame, e pela distração na vitrine, ele não parecia querer pão. O Sô Antenor já estava incomodado com tal presença na padaria. A mim o garoto não incomodava em nada, a diferença entre nós dois estava nos pés. Ele, com seu chinelo velho amarrado com arame, e eu, com meus pés descalços.

Lá pelas tantas, o Sô Antenor, já cuspindo marimbondos e querendo se ver livre do “moleque”, mas ao mesmo tempo querendo evitar tumulto e se fingir de bonzinho perto da clientela, pegou na vitrine da padaria o primeiro brigadeiro que viu pela frente e deu ao garoto dizendo:

– Pegue isso aqui e vai embora!

O garoto, assustado, olhando ora para o brigadeiro, ora para o Sô Antenor, disse:

– O senhor não se importa se eu der o brigadeiro para o menino aqui? Sou diabético, não posso comer nada com açúcar.

O menino era eu. Envergonhado, o Sô Antenor perguntou:

– Mas então o que é que você estava fazendo debruçado na vitrine?

Com brilho nos olhos, o garoto respondeu:

– Ah, sim, é verdade! Hoje na escola a professora falou sobre o trabalho das abelhas na produção do mel e pediu que a gente pesquisasse sobre o assunto, e como aqui na vitrine tem muitas abelhas, eu aproveitei para analisar o comportamento delas e acabei me esquecendo do tempo. A propósito, o pão da tarde já está pronto, né!? Por favor, eu quero cinco. Aqui está o dinheiro.

Muito envergonhado, o Sô Antenor não sabia onde pôr a cara. A única coisa que o vi fazendo foi colocar dez pães na sacola do garoto, e não cinco, como tinha sido pedido.

Ao final, o Sô Antenor disse ao garoto:

– Então tome os pães e leve um brigadeiro para sua mãe.

Mas o garoto justificou:

– Eu agradeço o senhor, mas não posso levar para minha mãe. Desde o dia em que ela soube que eu não poderia comer mais nada com açúcar, ela também se recusa a comer qualquer coisa doce. 

Não satisfeito, e querendo reparar seu erro, o Sô Antenor disse:

– Então passe aqui amanhã neste mesmo horário que eu vou preparar para você uma bandeja de brigadeiros dietéticos. Cortesia da casa. Combinado?

– Combinado!

O garoto já tinha tomado seu destino e o Sô Antenor estava me atendendo. Eu não tinha maturidade para entender, mas mesmo assim o Sô Antenor resmungou para mim:

– É!... “menino na rua” não significa que seja “menino de rua”! Tome aqui um brigadeiro e leve este outro para sua mãe!

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Pois bem, em Emaús Jesus foi reconhecido pelo seu testemunho e os dois discípulos testemunharam que queriam ver Jesus. Na história acima o garoto pobre foi visto como um bom menino porque deu testemunho de bom menino. O dono da padaria reconheceu que errou e testemunhou que queria consertar seu erro. E qual deve ser meu testemunho? Meu testemunho é ver Jesus no próximo, e assim, o próximo, quem sabe, poderá ver Jesus em mim.