Crônica da Semana - Tempo de des-cobrir
Tempo de des-cobrir
- Berenice Rosa de Lima Sant’Anna -
A
citação desse ensinamento bíblico em pleno século das velocidades pode,
erroneamente, ser considerada pelos desavisados desprovida de sentido. Porém,
uma leitura mais atenta nos revela a complexidade das palavras do pregador:
seria o homem capaz de vencer o ciclo da vida: nascer, viver e morrer?
Certo
é que o ritmo acelerado do desenvolvimento industrial, tecnológico e científico
vem alterando de forma progressiva a ordem natural do universo, dando-nos a
ilusão de controle dos acontecimentos e da totalidade do tempo. Como
consequência, vivemos na idolatria, no endeusamento do eu e não percebemos a
inércia – disfarçada em dinamicidade – que nos envolve, não percebemos como
estamos perdidos... O que importa é viver o agora e, na sofreguidão de viver o
tempo presente, desestruturamos a rede de relações que nos cerca e ignoramos a
construção da essência humana.
O
carpe diem se confunde com uma ânsia de aproveitar a vida e o tempo de
semear, de brotar, de florescer, de maturar, não é saboreado. Por isso a sensação
de tempus fugit. De fato, a aceleração ou ausência de tempo é sinal de
que ele está fugindo e, ironicamente, consumindo nossas forças neste frenético
modo de viver.
É
preciso nos livrar desta automação, desta sedução dos tempos modernos. É
preciso, como diz Leonardo Boff, transcender, mas conscientes de nossas
limitações para um firme enfrentamento das adversidades.
Com
essa motivação, podemos afirmar – entre o nascer, o viver e o morrer – que o
nosso tempo é quando experimentamos a transcendência, é quando vivenciamos a
alegria de dar e de receber. O nosso tempo é quando, na beleza única do momento
que nunca mais será, (des)cobrimo-nos.