Crônica da Semana - Separar o joio do trigo


Separar o joio do trigo
Ricardo Morais Pereira
Membro da Pascom da Paróquia Imaculada

Até pouco tempo atrás as informações demoravam dias, até anos para chegarem a nós. Se voltarmos vinte anos no tempo, no início do milênio, a televisão e os jornais impressos ainda eram os principais meios de comunicação. Grande parte dos brasileiros se atualizavam do que estava acontecendo no Brasil e no mundo por meio do Jornal Nacional.
Hoje vivemos em um mundo totalmente conectado. Tudo mudou! A quantidade de informações que recebemos diariamente através da internet equivale a quantidade que nossos antepassados levavam meses, até anos para receber. Entretanto, essa conexão não é sinônimo de proximidade, e nem sempre receber notícias significa estar bem informado.
As redes sociais deram voz a pessoas que até então se limitavam a falar para o seu grupo mais próximo. Tomemos como exemplo a pastoral da comunicação das nossas comunidades. Anteriormente a maioria delas se dedicava apenas a confeccionar um informativo mensal, distribuído ao final das celebrações e que trazia notícias pastorais e reflexões sobre a vida comunitária. Hoje a PASCOM interage diariamente com os paroquianos através das redes sociais, blogs, rádios, TV, lives. Enfim, a vida comunitária rompeu as paredes dos templos e chegou às casas dos católicos. Podemos citar como exemplo também os grandes influenciadores digitais que ganharam fama com vídeos caseiros e simples, e até mesmo padres "youtubers" que atingem milhares de casas.
Esta breve reflexão tem como eixo a proposta do Evangelho do 16º Domingo do Tempo Comum. Nele Jesus contou uma parábola ao povo, que deu origem à famosa expressão "separar o joio do trigo". O joio é uma erva daninha que nasce nas plantações de trigo. Na parábola contada por Jesus, assim que as espigas começaram a se formar, o joio também apareceu, ao que o empregado indagou ao patrão: "devo cortar o joio?" Entretanto o patrão advertiu: "não, pois pode ser que arrancando o joio, arranquemos também o trigo. Quando chegar o momento da colheita, aí sim arrancai o joio e o queimai, e colhei em seguida o trigo".
Pois bem. As redes sociais democratizaram o acesso à informação. Todavia, infelizmente algumas pessoas se ocupam na atividade de desinformar, ou seja, de levar notícias falsas (as chamadas "fake news") às pessoas. Com isso gera-se confusão, divisão e até mesmo a morte. Vejamos o que aconteceu em Guarujá, litoral de São Paulo. Uma mulher de nome Fabiane Maria de Jesus foi confundida com uma sequestradora de crianças, e por conta de notícias falsas que circularam na internet, acabou sendo linchada até a morte injustamente por populares em 2014. Uma ferida aberta eternamente no coração de sua família.
A internet e as redes sociais vieram para ficar, e sem dúvida alguma representam um grande avanço para a humanidade. Um exemplo disso é o crescimento da PASCOM da nossa comunidade neste tempo de pandemia. Graças a ela, nossos paroquianos permanecem unidos à vida comunitária. Podemos citar ainda o papel importante que as redes têm no combate ao coronavírus, na disseminação do conhecimento e até mesmo na geração de empregos e aquecimento da economia.
No entanto, temos de ficar atentos e separar o joio do trigo, ou seja, nem tudo que lemos e recebemos nas mídias digitais é saudável. Temos de utilizar a prudência e a serenidade e sempre checar as informações que recebemos. Não aceitar tudo o que chega até nós como verdade absoluta. Verificar se a fonte é confiável, se a notícia de fato é verdadeira, se a informação serve para edificar ou para destruir.
Gosto muito daquela passagem do antigo testamento onde Deus diz ao Rei Salomão "pede o que desejas e eu te dou", ao que ele responde: "dá-me sabedoria" (II Crônicas, 1). Que Deus nos conceda a sabedoria necessária para separar o joio do trigo na nossa vida cotidiana.