Informação Especial - 14/07 - Comunidade em tempos de pandemia
Comunidade em tempos de pandemia
Dom Aloísio Alberto Dilli
Bispo de Santa Cruz do Sul
Bispo de Santa Cruz do Sul
Caros diocesanos. O Documento de
Aparecida diz que “não pode existir vida cristã fora da
comunidade” (DAp 278), inspirando-se nas primeiras comunidades
cristãs para tal afirmação, pois elas se caracterizaram pela fraternidade e
pela comunhão (cf. At 4, 32). A comunidade, portanto, faz parte normal e
necessária da vida dos cristãos, pois está inerente à sua identidade. Deus
criou o ser humano à sua própria imagem e semelhança, portanto o criou para a
comunhão, chamando-o a entrar na íntima relação com Ele e para a fraternidade
universal: “Essa é a mais alta vocação do ser humano: entrar em comunhão com
Deus e com os outros, seus irmãos” (VFC 9). Dentro deste contexto,
entenderemos o sentido etimológico da palavra “Igreja” como “convocação”, ou
seja, a assembleia dos convocados pela Palavra de Deus para formarem o Povo de
Deus reunido, que se alimenta com a Eucaristia, a fim de se tornar membro do
Corpo Místico de Cristo, em que Ele é a Cabeça e nós, os seus membros (cf. CIgC
777 e 807). Como afirma o Concílio Vaticano II, a Igreja é o sinal e
instrumento da íntima união com Deus e da unidade de todo gênero humano (cf. LG
775).
Ingressamos neste Povo de Deus a
partir do nosso batismo, quando nos tornamos filhos e herdeiros de Deus e
participamos de uma só família de irmãos e de irmãs em Jesus Cristo. Pelo
sacramento da Crisma, confirmamos esta nossa fé e missão batismal de discípulos
missionários numa comunidade concreta, na qual nos alimentamos sobretudo com o
Pão da Palavra e o Pão da Eucaristia, desafiados a viver a nossa missão. Tudo
isso podia ser normal até pouco tempo, quando fomos surpreendidos, junto com
todo planeta, pelo Coronavírus Covid-19, que nos obrigou a um distanciamento
social e, de certa forma, também comunitário, por tempo indeterminado. Isso não
acabou nosso espírito comunitário e eclesial, mas nos obrigou a viver a fé e o
espírito comunitário de outras formas, talvez não tão evidenciadas em outras
épocas, consideradas normais.
Na experiência de reclusão em nossas
casas e de dificuldades em nos reunirmos nas igrejas, foi necessário acentuar a
presença do Senhor entre nós de outras formas, especialmente como Igreja
doméstica, família orante, dando vida à palavra de Jesus: “Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, ali eu estarei,
no meio deles” (Mt 18, 20). Entre os meios privilegiados de encontro
com o Senhor, a Palavra de Deus recebeu destaque todo especial, pois é Deus
mesmo que fala quando se leem as Sagradas Escrituras na Igreja (Cf. SC 7),
tornando a Palavra viva, eficaz e eterna (Cf. Hb 4, 12; 1Pedr 1, 23). Através
dela podemos encontrar-nos com Alguém, que tem identidade, rosto e nome: Jesus
Cristo, o Verbo (a Palavra) que se fez carne e habitou entre nós (Cf. Jo 1,
14). Bento XVI afirma: “A Igreja funda-se sobre a
Palavra de Deus, nasce e vive dela” (VD 3). O Senhor também se
revela na caridade dos irmãos que se doam pelos outros, sobretudo os
necessitados: “Todas as vezes que fizestes isso a um destes
pequeninos que são meus irmãos, foi a mim que o fizestes” (Mt 25,
40). Sim, é tempo de muita caridade!
Enquanto a pandemia perdurar, abramos
as portas da fé ao Senhor sobretudo em nossas casas, pois Ele sempre deseja
estar conosco. Intensifiquemos a experiência de Igreja doméstica, rezando
juntos, ouvindo a Palavra de Deus, fortificando o espírito fraterno na família
e ajudando os necessitados. Não será uma quarentena que tirará o nosso espírito
fraterno. E quando o Covid-19 não mais ameaçar, voltemos saudosos e
perseverantes aos nossos templos, onde seremos acolhidos pelo Senhor e pelos
irmãos, na forma comunitária ideal, a que mais nos identifica como cristãos que
se reúnem para ouvir a Palavra, alimentar-se da Eucaristia e fortificar a
caridade fraterna na missão.
Fonte: https://www.cnbb.org.br/comunidade-em-tempos-de-pandemia/