Informação Especial - 11/01 - O Papa: o mundo precisa de unidade e fraternidade para superar a crise
O Papa: o mundo precisa de unidade e fraternidade para
superar a crise
Entrevista do Papa ao programa “Tg5” da televisão italiana: da pandemia, à defesa da vida e dos vulneráveis, passando pelo valor da unidade na política e na Igreja, Francisco aborda grandes temas da atualidade do novo ano e convida todos a se vacinarem e a redescobrirem o valor da fé como dom de Deus
VATICAN NEWS
Redescobrir-se
unidos, mais próximo a quem sofre, sentir-se irmãos para superar juntos a crise
mundial causada pela pandemia. No início da entrevista ao Tg5, Francisco
reiterou que “de uma crise nunca se sai como antes, nunca. Saímos melhores ou
piores”. Para o Papa, “é preciso rever tudo. Os grandes valores sempre existem
na vida, mas os grandes valores devem ser traduzidos na vida do momento”. O
Pontífice faz então uma lista com uma série de situações dramáticas a partir
das crianças que sofrem com a fome e não podem ir à escola e as guerras que
atingem muitas áreas do planeta. “As estatísticas das Nações Unidas – destaca –
são assustadoras a respeito”. Adverte que se nós sairmos da crise “sem ver estas
coisas, a saída será outra derrota. E será pior. Olhemos somente para estes
dois problemas: as crianças e as guerras”.
Vacinar-se
é uma ação ética, não uma opção
O
Papa responde depois a uma pergunta do jornalista Fabio Marchese Ragona sobre
as vacinas. “Eu creio – afirma – que eticamente todos devem tomar a vacina. Não
é uma opção, é uma ação ética. Porque está em risco a sua saúde, a sua vida,
mas também a vida dos outros”. E explica que nos próximos dias começará a
campanha de vacinação no Vaticano e também ele se “cadastrou” para receber a
dose. “Sim, deve-se fazer”, repete, “se os médicos a apresentam como algo que
pode ser bom e que não tem perigos especiais, por que não tomar? Há um
negacionismo suicida nisso, que eu não saberia explicar”. Para o Pontífice,
este é o tempo de “pensar no nós e cancelar por um período o eu, colocá-lo
entre parênteses. Ou nos salvamos todos com o nós ou não se salva ninguém”. A
respeito, o Papa fala de modo amplo, oferecendo a sua reflexão sobre o tema da
fraternidade, que muito valoriza. “Este é o desafio: fazer-me próximo ao outro,
próximo à situação, próximo aos problemas, fazer-me próximo às pessoas”.
Inimiga da proximidade é “a cultura da indiferença?”. Fala-se de um “saudável
desinteresse pelos problemas, mas o desinteresse não é saudável. A cultura da
indiferença destrói, porque me afasta”.
É
o “tempo do nós” para superar a crise
“A
indiferença nos mata – retoma Francisco –, porque nos afasta. Ao invés, a
palavra-chave para pensar as saídas da crise é a palavra ‘proximidade’.” Se não
há unidade, proximidade, adverte o Papa, “podem-se criar tensões sociais mesmo
dentro dos Estados”. E assim fala da “classe governamental” seja na Igreja,
seja na vida política. Neste momento de crise, exorta, “toda a classe governamental
não tem o direito de dizer ‘eu’… deve dizer ‘nós’ e buscar uma unidade diante
da crise”. Neste momento, reafirma com força, “um político, um pastor, um
cristão, um católico, também um bispo, um sacerdote, que não tem a capacidade
de dizer ‘nós’ ao invés de ‘eu’, não está à altura da situação”. E acrescenta
que os “conflitos na vida são necessários, mas neste momento devem sair de
férias”, abrir espaço para a unidade “do país, da Igreja, da sociedade”.
Aborto
é questão humana antes de ser religiosa
Mais
uma vez, Francisco observa que a crise devida à pandemia exacerbou ainda mais a
"cultura do descarte" no confronto dos mais fracos, sejam eles
pobres, migrantes ou idosos. Detém-se especialmente no drama do aborto que
descarta crianças indesejadas. "O problema do aborto", adverte,
"não é um problema religioso, é um problema humano, pré-religioso, é um
problema de ética humana" e depois religioso. "É um problema que
também um ateu tem de resolver na sua consciência". "É correto",
pergunta o Pontífice, "cancelar uma vida humana para resolver um problema,
qualquer problema? É correto contratar um assassino para resolver um
problema?"
Capitol
Hil, aprender com a história: nunca a violência
O
Papa não deixa de comentar os dramáticos acontecimentos no Capitol Hill no
último dia 6 de janeiro. Confidou que ficou "surpreso", considerando
a disciplina do povo dos Estados Unidos e a maturidade da sua democracia. No
entanto, observa, mesmo nas realidades mais maduras, há sempre algo de errado
quando há "pessoas que tomam um caminho contra a comunidade, contra a
democracia, contra o bem comum". Agora que isto se verificou, continua,
foi possível "ver bem" o fenômeno e se "pode pôr remédio".
Francisco condenou a violência: "Devemos refletir e compreender bem e, para
não repetir, aprender com a história", estes "grupos para-regulares
que não estão bem inseridos na sociedade, mais cedo ou mais tarde produzirão
estas situações de violência".
A
fé, um dom a ser pedido ao Senhor
O
Papa finalmente responde como está pessoalmente vivendo as restrições devidas à
pandemia. Ele confessa que se sente "engailoado", se detém nas
viagens canceladas para evitar as aglomerações de pessoas, fala da esperança de
visitar o Iraque. Neste momento, dedica mais tempo à oração, à conversa pelo
telefone e reitera como foram importantes para ele alguns momentos, tais como a
Statio Orbis em São Pedro no último dia 27 de março, "uma expressão de
amor a todas as pessoas" e que nos faz "ver novas formas de nos
ajudarmos uns aos outros". Ele oferece assim uma reflexão sobre a fé no
Senhor, que - disse - é antes de tudo "um dom". "Para mim"
- afirma -, "a fé é um dom, nem eu nem você, nem ninguém pode ter fé pelas
suas próprias forças: é um dom que o Senhor dá a você", que não pode ser
comprado. Retomando então uma passagem do Deuteronômio, o Papa Francisco exorta
a invocar a "proximidade de Deus". Esta proximidade "na fé é um
dom que temos de pedir". A entrevista conclui com os votos de que em 2021
"não haja descartes, que não haja comportamentos egoístas" e que a
unidade possa prevalecer sobre o conflito.