Informação Especial - 26/01 - Papa aos media: ir aonde mais ninguém vai
Papa aos media: ir aonde mais ninguém vai
Papa Francisco na Biblioteca do Palácio Apostólico (Vatican Media) |
Na sua Mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais de 2021 o Santo Padre elogia a coragem dos jornalistas na denúncia de guerras e perseguições. Assinala a importância da comunicação digital e sublinha o valor da experiência pessoal para noticiar a realidade.
Rui Saraiva - Porto
O
Papa Francisco publicou a sua Mensagem para o LV Dia Mundial das Comunicações
Sociais. Como sempre nas proximidades do dia 24 de janeiro, memória litúrgica
de S. Francisco de Sales, padroeiro da imprensa católica.
O
Santo Padre dá como título à sua mensagem aos media: “Comunicar encontrando as
pessoas onde estão e como são”. É o encontro aquilo que mais marca o desafio
lançado pelo Papa aos jornalistas. Serem capazes de assumir a frase do
Evangelho de João: “Vem e verás”, tal como “a fé cristã se comunicou a partir
dos primeiros encontros nas margens do rio Jordão e do lago da Galileia” –
escreve o Papa.
Ir
ao encontro com a coragem dos jornalistas
Para
o Papa Francisco existe uma “crise editorial” que “corre o risco de levar a uma
informação construída nas redações, diante do computador, nos terminais das
agências, nas redes sociais, sem nunca sair à rua”. Desta forma, é importante
os jornalistas estarem abertos ao encontro procurando verificar “com os
próprios olhos”. “Se não nos abrimos ao encontro, permanecemos espectadores
externos” – escreve o Papa na sua Mensagem.
“O
próprio jornalismo, como exposição da realidade, requer a capacidade de ir
aonde mais ninguém vai: mover-se com desejo de ver” – lembra Francisco
enaltecendo a coragem de muitos jornalistas que se esforçam por narrar a
realidade, mesmo que tenham que correr riscos:
“Temos
que agradecer a coragem e determinação de tantos profissionais (jornalistas,
operadores de câmara, editores, cineastas que trabalham muitas vezes sob
grandes riscos), se hoje conhecemos, por exemplo, a difícil condição das
minorias perseguidas em várias partes do mundo, se muitos abusos e injustiças
contra os pobres e contra a criação foram denunciados, se muitas guerras
esquecidas foram noticiadas” – frisa Francisco.
Para
o Papa “seria uma perda não só para a informação, mas também para toda a
sociedade e para a democracia, se faltassem estas vozes: um empobrecimento para
a nossa humanidade” – salienta.
Atenção
mediática aos mais pobres
O
Santo Padre na sua Mensagem refere-se, em particular, ao tempo de pandemia que
estamos a viver, sublinhando que “há o risco de narrar a pandemia ou qualquer
outra crise só com os olhos do mundo mais rico”. Ou seja, o risco de que a
atenção mediática possa ser regida pelos interesses dos mais ricos e poderosos.
E o Papa exemplifica:
“Por
exemplo, na questão das vacinas e dos cuidados médicos em geral, pensemos no
risco de exclusão que correm as pessoas mais indigentes. Quem nos contará a
expetativa de cura nas aldeias mais pobres da Ásia, América Latina e África?
Deste modo as diferenças sociais e económicas a nível planetário correm o risco
de marcar a ordem da distribuição das vacinas anti-Covid, com os pobres sempre
em último lugar; e o direito à saúde para todos, afirmado em linha de
princípio, acaba esvaziado da sua valência real” – diz o Papa não esquecendo
quem sofre “no mundo dos mais afortunados”, sobretudo “o drama social das
famílias decaídas rapidamente na pobreza” e que “fazem a fila à porta dos
centros da Cáritas”.
Na
web oportunidades e perigos
O
Papa refere que a web “pode multiplicar a capacidade de relato e partilha”
apontando que com a internet há “muitos mais olhos abertos sobre o mundo”.
“A
tecnologia digital dá-nos a possibilidade duma informação em primeira mão e
rápida, por vezes muito útil; pensemos nas emergências em que as primeiras
notícias e mesmo as primeiras informações de serviço às populações viajam
precisamente na web. É um instrumento formidável, que nos responsabiliza a
todos” – assinala Francisco.
O
Santo Padre lembra que “potencialmente, todos podemos tornar-nos testemunhas de
acontecimentos que de contrário seriam negligenciados pelos meios de
comunicação tradicionais”. Ressalta que “graças à rede, temos a possibilidade
de contar o que vemos, o que acontece diante dos nossos olhos, de partilhar
testemunhos”.
Mas,
existem também perigos e riscos como o de uma “comunicação social não
verificável”. As imagens podem ser manipuláveis sendo necessária “uma maior
capacidade de discernimento” e “um sentido de responsabilidade mais maduro,
seja quando se difundem seja quando se recebem conteúdos”.
“Todos
somos responsáveis pela comunicação que fazemos, pelas informações que damos,
pelo controlo que podemos conjuntamente exercer sobre as notícias falsas, desmascarando-as.
Todos estamos chamados a ser testemunhas da verdade” – escreve Francisco.
Nada
substitui o ver pessoalmente
Na
sua Mensagem dedicada aos media, o Papa salienta que “algumas coisas só se
podem aprender, experimentando-as”. “O intenso fascínio de Jesus sobre quem O
encontrava dependia da verdade da sua pregação, mas a eficácia daquilo que
dizia era inseparável do seu olhar, das suas atitudes e até dos seus silêncios.
Os discípulos não só ouviam as suas palavras, mas viam-No falar” – escreve o
Papa.
O
Santo Padre denuncia a “quantidade de eloquência vazia que abunda no nosso
tempo” e lança o desafio de que os comunicadores cristãos usem o método
utilizado na difusão da “boa nova do Evangelho” através de “encontros pessoa a
pessoa, coração a coração: homens e mulheres que aceitaram o mesmo convite –
«vem e verás”.
“Todos
os instrumentos são importantes, e aquele grande comunicador que se chamava
Paulo de Tarso ter-se-ia certamente servido do e-mail e das mensagens
eletrónicas; mas foram a sua fé, esperança e caridade que impressionaram os
contemporâneos que o ouviram pregar e tiveram a sorte de passar algum tempo com
ele, de o ver durante uma assembleia ou numa conversa pessoal” – escreve o Papa
lembrando S. Paulo.
O
Papa Francisco conclui a sua mensagem para o Dia Mundial das Comunicações
Sociais neste ano de 2021 com uma oração:
Senhor,
ensinai-nos a sair de nós mesmos, e partir à procura da verdade.
Ensinai-nos
a ir e ver, ensinai-nos a ouvir, a não cultivar preconceitos, a não tirar conclusões
precipitadas.
Ensinai-nos
a ir aonde não vai ninguém, a reservar tempo para compreender, a prestar
atenção ao essencial, a não nos distrairmos com o supérfluo, a distinguir entre
a aparência enganadora e a verdade.
Concedei-nos
a graça de reconhecer as vossas moradas no mundo e a honestidade de contar o
que vimos.
O
Dia Mundial das Comunicações Sociais foi estabelecido pelo Concílio Vaticano II
através do decreto “Inter Mirifica” em 1963 e assinala-se no domingo antes do
Pentecostes. Este ano será a 16 de maio.
Laudetur
Iesus Christus