Crônica - 14/02 - Viver os mandamentos e testemunhar o amor de Deus é caridade absoluta.

Viver os mandamentos e testemunhar o amor de Deus é caridade absoluta.

Eduardo da Silva - Teddy

Membro da PASCOM - Paróquia Imaculada

 A Lei do Antigo Testamento, como vemos na liturgia deste domingo, protegia os que eram saudáveis, pagando com um alto preço da segregação e do isolamento dos doentes.

“Durante todo o tempo em que estiver leproso será impuro; e, sendo impuro, deve ficar isolado e morar fora do acampamento.” (Lv 13, 46)

Em tempos de medicina precária, essa atitude amparava a comunidade contra uma pandemia, que poderia acabar com a população da época.

Passados longos anos, essa prática não servia só para proteção da saúde, mas tornava-se soberba para quem era “puro”. Aquele que não era acometido por doença era “o abençoado” por Deus, porém o enfermo era o pecador castigado por Deus.

A observância dessa Lei isentou a consciência das pessoas e dos religiosos de dar atenção a esses excluídos. O homem com tantas Leis religiosas, regras, ritos e preceitos, já estava perdido.

Então veio o Messias. O Filho de Deus vivo, prometido por Deus Pai.

“Eis o cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo”. (Jo 1,29b)

Jesus cumpriu essa Lei do isolamento e outras Leis, mas colocou a vida em primeiro lugar.

Ele respeitou a Lei sem machucar o pecador.

Demonstrou atenção a um excluído público e declarado pela Lei.

Foi generoso com seu próximo (excluído), curou a alma, sarou o coração, mostrou o caminho do céu.

Ele nos faz considerar e refletir se a igreja de hoje escolhe as minorias, porque não amamos suficientemente os excluídos de nossa época.

Afinal, não se assemelha ao que fez Jesus?

Contrapondo de um lado a Lei e do outro o Amor de Deus, convido a cada leitor a imaginar a situação no dia a dia da nossa vida.

Por exemplo, um professor corrige um mau comportamento de um adolescente em público. Certamente causará nele, aversão, inquietude e rebeldia, simplesmente porque fere seu amor próprio, normal a qualquer um de nós inclusive.

Em outro ambiente uma mãe corrige seu filho pelo mesmo mau comportamento. Porém desta vez haverá mais chance de mudança de atitude, reflexão e aprendizado do menino. Pensemos, por quê? Eu não tenho dúvida.

Na segunda situação é porque existe muito amor de mãe envolvido! Por mais que seja um “aborrecente”, cedo ou tarde ele saberá que o amor dos pais é incondicional.

Quero provocar esta reflexão: A Lei de Deus, por si só ou somente por ela, não nos leva ao céu.

Em Gál 2,16: "Sabemos, contudo, que ninguém se justifica pela prática da Lei, mas somente pela fé em Jesus Cristo. Também nós cremos em Jesus Cristo, e tiramos assim a nossa justificação da fé em Cristo, e não pela prática da Lei. Pois, pela prática da Lei, nenhum homem será justificado."

Raramente se convence alguém pela obrigação ou observância dos mandamentos. Na convivência com meu próximo, os mandamentos sem o amor de Deus, simplesmente o afasta, exclui, desvia-o do caminho certo e da vida eterna.

Revelar o pecado alheio é uma soberba. Sinalizar o erro de alguém em público é corrigir e humilhar. Apontar a Lei para alguém que cometeu um erro e como apontar o dedo dizer “você é inferior”, “você é impuro”.

Por outro lado, a Lei com o amor de Deus é a caridade absoluta!

Jesus usou a Lei para dar testemunho da caridade.

“... o cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” é porque Ele testemunhou a generosidade com observância da Lei, e isso tira o pecado do coração do homem (do mundo).

Do livro de São João:

"Respondeu-lhe Jesus: Se alguém me ama, guardará a minha palavra e meu Pai o amará..." (Jo 1423)

“Se me amais, guardareis os meus mandamentos”: (Jo 14, 15).

Quem ama guarda os mandamentos. Quem vive os mandamentos dá testemunho da caridade. A caridade transforma e cura a alma do próximo. Quem prova desse amor se converte.

Por seu livre arbítrio, toma gosto pelos mandamentos.

Como nos fala a segunda leitura: “Quer comais, quer bebais, quer façais qualquer outra coisa, fazei tudo para a glória de Deus.” (1Cor 10,31)

Não há conversão de pecadores sem exemplo de vida, Jesus é o testemunho em primazia. Nisso precisamos imitá-lo.

“Sede meus imitadores, como também eu o sou de Cristo.” (1Cor 11,1)

Não há testemunho sem viver a caridade cristã. Só se convertem pessoas excluídas pela caridade cristã porque é o Amor de Deus que as toca.

Ouso então interpretar o pedido de Jesus na Santa Ceia…

“Fazei isto em memória de mim” (Lc 22,19)

Será que também significa: “Testemunhem a caridade em memória de mim!”