Informação Especial - 07/08 - A Transfiguração do Senhor, segundo dom Orani Tempesta, é uma lição de fé e esperança
A Transfiguração do Senhor, segundo dom Orani
Tempesta, é uma lição de fé e esperança
A Transfiguração do Senhor
é celebrada na Igreja oriental desde o século V, fixada em seu calendário
solene como uma das grandes festas litúrgicas em honra a Jesus Cristo, e
celebra-se nesta quinta-feira, dia 06 de agosto. Segundo o cardeal Orani João
Tempesta, arcebispo do Rio de Janeiro, essa data é celebrada com comemorações
populares no ocidente, como Bom Jesus (com várias denominações), Santo Cristo,
Santíssimo Salvador, Salvador do Mundo, e tantas outras invocações.
O fato é que a Transfiguração do Senhor está entre as grandes
festas e solenidades da Igreja oriental, sendo precedida com a oração das
vésperas solene, seguida da grande vigília de oração, “é evidente que para os
nossos irmãos orientais esta festa tem uma importância extraordinária pois traduz
profundamente a teologia da divinização do homem”, disse o cardeal Orani.
Dom Orani explica que a motivação pela qual se celebra em 06 de
agosto provavelmente está associada a festa da dedicação da Igreja do Monte
Tabor, mas também porque é o dia do grande meio-dia, o apogeu da luz do verão.
“Tem também a questão de ser quarenta dias antes da Festa da Exaltação da Santa
Cruz. Segundo uma tradição esse acontecimento teria ocorrido quarenta dias
antes da crucifixão”, explica o cardeal.
Na tradição histórica do povo bíblico neste dia os frutos da
estação eram abençoados no altar do Senhor, algumas vezes simbolizados pela
uva. “Mesmo sendo de origem palestina, a festa da Transfiguração do Senhor
também se estendeu às Igrejas Armênia e Siríaca; somente depois começou a fazer
parte das festas da Igreja Ocidental, e foi introduzido no calendário católico
ocidental por volta do ano de 1457, pelo Papa Calisto II (cf. Missal Romano)”,
diz dom Orani.
“Neste dia celebramos a Transfiguração do Senhor e Nosso
Salvador Jesus Cristo, além de católicos e ortodoxos, para esta solenidade se
unem os irmãos anglicanos e luteranos, iluminados e irmanados pelo mesmo
espírito, unidade que congrega a mesma inspiração e carisma do seguimento de
Jesus Cristo”.
A Igreja ao celebrar a Transfiguração do Senhor recorda o
episódio da própria transfiguração narrado no Evangelho, acompanhando mais de
perto os aspectos cronológicos da vida de Jesus Cristo, sua história.
Dom Orani explica que o episódio da Transfiguração chegou até
nós através dos relatos dos Evangelhos Sinóticos (Mt 17,1-9; Mc 9,2-10; Lc
9,28-36), mas também através de uma alusão contida na Segunda Carta de São
Pedro Apóstolo (1.16 a 18) proposta pela forma litúrgica como uma leitura do
livro do profeta Daniel (7-9-10.13-14), se a festa for celebrada na semana.
A Transfiguração é, segundo dom Orani, portanto, uma teofania,
uma manifestação tanto da vida divina de Cristo como da Trindade. “Nesse
sentido, o episódio da vida de Jesus é considerado como o batismo de Jesus no
Jordão. A voz do Pai declara Jesus como seu filho amado; o Filho está brilhando
de luz, símbolo de sua descida divina; o Espírito envolve os discípulos à
sombra da nuvem, tornando-se o portador da voz que testemunha a identidade de
Jesus.
Dom Orani explica que Jesus foi transfigurado aos olhos dos seus
discípulos, e até mesmo os olhos dos discípulos foram transfigurados, no
sentido de uma transformação de sua capacidade de ver, contemplar, para ser
capaz de encontrar em Cristo a glória de Deus através do Espírito Santo. “Esses
discípulos são aqueles que participaram de momentos particulares na vida de
Jesus: curas, pregação e depois paixão. É precisamente para fortalecer a fé
destes, tendo em vista o escândalo da cruz, que Jesus os escolheu por causa da
humilhação de enfrentar a morte e sendo desfigurado pela dor na cruz, eles
podem, em seguida, lembrar-se de ter contemplado a natureza divina de Jesus,
mesmo por um momento, a fim de acreditar além da morte que parece cancelar a
vida”, salientou.
“A Transfiguração é um suporte para a fé, a fim de sustentar a
fraqueza de seus apóstolos, uma ajuda gradual diante do mistério de Cristo até
a Páscoa. É um lampejo de luz do Reino de Deus que é o próprio Cristo, a luz da
Páscoa e do Pentecostes, o tempo da Transfiguração do mundo”.
A transfiguração, ainda segundo dom Orani, pode-se vê-la como
uma janela aberta sobre a divindade de Jesus, a participação em sua essência
intra-trinitária, ou pelo menos a manifestação que é experimentada por nós pelo
que Ele é dentro da Trindade. “Esta é a vida que o Filho sempre viveu, antes
que o mundo fosse, vida assumida no corpo de carne que Jesus nascido de Maria,
e oculta durante sua vida terrena. É, portanto, uma antecipação do que seremos
quando formos glorificados na ressurreição, o que seremos quando Cristo
transformar nosso corpo mortal e torná-lo semelhante ao seu corpo glorioso,
para participar da beleza de Deus”, afirma.
Dom Orani garante que em nossa jornada de cada dia estamos
gradualmente transformados pela ação do Espírito de Cristo, que, através dos
sacramentos, especialmente da Eucaristia, a presença perfeita de Jesus Cristo
transfigurado no pão e no vinho que pela transubstanciação se tornam o seu
Corpo e do seu Sangue para a remissão dos pecados e para a nossa salvação. “Jesus
transfigurado já é o que o cristão é chamado a se tornar através de seu batismo
e por consequência sua vocação e missão no mundo”, disse.
“A vida Cristã se compreende como um processo histórico de
transformação real em Cristo, parafraseando o prefácio próprio desta
solenidade, que revelou a sua glória tanto para preparar os seus discípulos
para suportar “o escândalo da cruz” como para antecipar o esplêndido destino da
Igreja ao longo de sua história”, salienta dom Orani.
Assim, a Transfiguração, de acordo com o cardeal, é uma lição de
fé para nós também, e é também uma lição de esperança, quando a proclamação da
paixão e da morte se aproxima, quando a tristeza e o sofrimento entram em nossa
existência e somos capazes de Transfigurar com Jesus Cristo para ressurgir
transformados e iluminados.