Informação Especial - 19/08 - Catequese do Papa - "Curar as epidemias causadas pelos pequenos vírus e pelas grandes injustiças sociais"
Papa exorta a curar as epidemias causadas pelos pequenos
vírus e pelas grandes injustiças sociais
“A pandemia é uma crise e de
uma crise não se sai igual: ou saímos melhores ou saímos piores. Nós deveríamos
sair melhores, para melhorar as injustiças sociais e a degradação ambiental.
Hoje temos uma oportunidade de construir algo diferente.", disse Francisco
em sua catequese, afirmando que seria triste se uma vacina contra a Covid-19
"se tornasse propriedade desta ou daquela nação e não universal para todos."
Jackson Erpen
– Vatican News
19 agosto
2020, 10:15
O Papa deu continuidade
nesta quarta-feira na Biblioteca do Palácio Apostólico a sua série de
catequeses dedicadas à pandemia, uma situação que nos oferece "a
oportunidade para construir algo diferente". "Pandemia é uma crise e
de uma crise não se sai iguais. Deveríamos sair melhores". No entanto, "se
o vírus voltar a se intensificar em um mundo injusto em relação aos pobres e
vulneráveis", devemos mudar este mundo. "Devemos agir agora para
curar as epidemias causadas por pequenos vírus invisíveis, e para curar as que
são provocadas pelas grandes e visíveis injustiças sociais", tendo como
critério, o amor de Deus.
Curar
um grande vírus, o da injustiça social
“A pandemia – ressaltou o
Pontífice logo ao iniciar - acentuou a situação dos pobres e a grande
desigualdade que reina no mundo. E o vírus, sem excluir ninguém, encontrou
grandes desigualdades e discriminações no seu caminho devastador. E
aumentou-as!” Diante deste quadro, é necessária uma dupla resposta:
“Por um lado, é essencial
encontrar uma cura para um pequeno mas terrível vírus que põe o mundo inteiro
de joelhos. Por outro, temos de curar um grande vírus, o da injustiça social,
desigualdade de oportunidades, marginalização e falta de proteção para os mais
vulneráveis. Nesta dupla resposta de cura há uma escolha que, segundo o
Evangelho, não pode faltar: é a opção preferencial pelos pobres. E isso não é
uma opção política, não é uma ideologia, nem de partido, não. A opção
preferencial pelos pobres está no centro do Evangelho. Jesus foi o primeiro a
fazê-la. Sendo rico, se fez pobre, para nos enriquecer, fez-se um de nós.”
Critério-chave
da autenticidade cristã
Recordando a forma como Jesus viveu sua vida
terrena - despojando-se e fazendo-se semelhante aos homens, vivendo sem
privilégios na condição de servo, nascido numa família humilde e tendo
trabalhado como artesão, estando no meio dos doentes, leprosos, dos pobres e
dos excluídos, mostrando-lhes o amor misericordioso de Deus,– o Papa observou
que se reconhece os seguidores de Jesus “pela sua proximidade aos pobres, aos
pequeninos, aos doentes, aos presos, aos excluídos, aos esquecidos, a quantos
estão sem comida e sem roupa. É o protocolo pelo qual seremos julgados"
(Mateus 25). E este – acentuou Francisco - é um critério-chave de autenticidade
cristã.
O Pontífice observa que
“alguns pensam erroneamente que este amor preferencial pelos pobres é uma
tarefa para poucos, mas na realidade é a missão de toda a Igreja”, como afirmou
São João Paulo II em sua Carta Encíclica Sollicitudo rei socialis. “Cada cristão
e cada comunidade - afirmou, citando a
Evangelii Gaudium - são chamados a ser instrumentos de Deus para a libertação e
promoção dos pobres”.
Trabalhar em conjunto para
curar as estruturas sociais doentes
“A fé, a esperança e o amor
impulsionam-nos necessariamente para esta preferência pelos mais necessitados,
que vai além da assistência necessária”, acrescentou, explicando:
“Trata-se de caminhar
juntos, deixando-se evangelizar por eles, que conhecem bem Cristo sofredor,
deixando-nos “contagiar” pela sua experiência de salvação, sabedoria e de sua
criatividade. Partilhar com os pobres significa enriquecer-se uns aos outros. E
se existem estruturas sociais doentes que lhes impedem de sonhar com o futuro,
devemos trabalhar em conjunto para curá-las, para mudá-las. E a isto conduz o
amor de Cristo, que nos amou ao extremo e chega até aos confins, às margens, às
fronteiras existenciais. Trazer as periferias para o centro significa centrar
as nossas vidas em Cristo, que «se fez pobre» por nós, a fim de nos enriquecer
«através da sua pobreza».”
Deveríamos
sair melhores da crise
Há uma expectativa para retomar as atividades
econômicas e voltar à normalidade. As consequências sociais da pandemia
preocupam a todos, "todos!" No entanto – chama a atenção o Papa –
esta “normalidade” “não deve incluir injustiça social e degradação ambiental”:
“A pandemia é uma crise e de
uma crise não se sai iguais: ou saímos melhores ou saímos piores. Nós
deveríamos sair melhores, para melhorar as injustiças sociais e a degradação
ambiental. Hoje temos uma oportunidade de construir algo diferente. Por
exemplo, podemos fazer crescer uma economia de desenvolvimento integral dos
pobres e não de assistencialismo. Com isso não quero condenar o
assistencialismo, as obras assistenciais são importantes. Pensemos no
voluntariado, que é uma das estruturas mais belas que tem a Igreja italiana.
Isto sim, faz o assistencialismo, mas devemos ir além, resolver os problemas
que nos levam a fazer o assistencialismo. Uma economia que não recorra a remédios
que na realidade envenenam a sociedade, tais como rendimentos dissociados da
criação de empregos dignos. Este tipo de lucro é dissociado da economia real,
aquela que deveria beneficiar as pessoas comuns e é também por vezes
indiferente aos danos infligidos à casa comum.”
“Fortes na tribulação. A
comunhão da Igreja ajuda em tempos de provação”“Fortes na tribulação. A
comunhão da Igreja ajuda em tempos de provação” O livro pretende ser uma
pequena ajuda oferecida a todos, para poder ver e experimentar na dor, no
sofrimento, na solidão e no medo a proximidade e a ternura de Deus.
A
vacina contra a Covid-19 e os quatro critérios de ajuda às indústrias
A opção preferencial pelos pobres – reitera o
Santo Padre - esta necessidade ética e
social que vem do amor de Deus, “dá-nos o estímulo para pensar e conceber uma
economia onde as pessoas, e especialmente as mais pobres, estejam no centro. E
também nos encoraja a projetar o tratamento dos vírus, privilegiando quem tem
mais necessidade”:
“Seria triste se essa vacina
contra a Covid-19 fosse dada a prioridade aos mais ricos! Seria triste se esta
vacina se tornasse propriedade desta ou daquela nação e não universal para
todos. E que escândalo seria se toda a assistência econômica que estamos a
observar - a maior parte dela com dinheiro público - se concentrasse no resgate
das indústrias que não contribuem para a inclusão dos excluídos, para a
promoção dos últimos, para o bem comum ou para o cuidado da criação. São critérios para escolher quais são as
indústrias a serem ajudadas: aquelas que contribuem para a inclusão dos
excluídos, para a promoção dos últimos, para o bem comum e com o cuidado da
criação. Quatro critérios!”
Mudar
o mundo a partir do amor de Deus
Se o vírus se voltar a
intensificar num mundo injusto em relação aos pobres e vulneráveis, devemos
mudar este mundo, enfatiza o Pontífice. Neste sentido, a exemplo de Jesus,
médico do amor divino integral, isto é, da cura física, social e espiritual
- devemos agir agora para curar as
epidemias causadas por pequenos vírus invisíveis, e para curar as que são
provocadas pelas grandes e visíveis injustiças sociais.
Proponho – disse Francisco
ao concluir - que isto seja feito a partir do amor de Deus, colocando as
periferias no centro e os últimos em primeiro lugar. "Não esquecer o protocolo pelo qual
todos seremos julgados, Mateus, capítulo 25. Coloquemo-lo em prática nesta
retomada da pandemia. E, a partir deste amor concreto - como diz o Evangelho -
, ancorado na esperança e fundado na fé,
será possível um mundo mais saudável. Do contrário, sairemos piores da
crise. Que o Senhor nos ajude, nos dê a força para sairmos melhores,
respondendo às necessidades do mundo de hoje. Obrigado!".