Informação Especial - 31/08 - Como se preparar para o Mês da Bíblia 2020?
Como
se preparar para o Mês da Bíblia 2020?
28/08/2020
Animação Bíblico-Catequética
A
Edições CNBB realizou ontem, 27 de agosto,
uma live cujo título foi “Preparação para o Mês da Bíblia”. O objetivo da formação, segundo o mediador da
live, padre Jânison de Sá, assessor da Comissão Episcopal Pastoral para a
Animação Bíblico-Catequética da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
(CNBB), foi conhecer melhor o tema do mês da Bíblia 2020 (setembro), o livro
que será objeto de estudo este ano e importância do mês da Bíblia para a Igreja
no Brasil. Este ano, 2020, a Igreja no Brasil comemora o Mês da Bíblia
fundamentando-se no livro do Deuteronômio, com o lema “Abre tua mão para o teu
irmão” (Dt 15,11).
Participou
da live como convidado o bispo de Luziânia (GO), dom Waldemar Passini. Ele
também é presidente do regional Centro-Oeste da CNBB, membro da Comissão
Bíblico-Catequética da CNBB e mestre em ciências bíblicas. Outros convidados
foram o frei Ildo Perondi, doutor em Teologia Bíblica e professor de Bíblia na
Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Paraná e a assessora da Comissão
Bíblico-Catequética da CNBB, irmã Izabel Patuzzo.
História
do Mês da Bíblia
Dom
Waldemar Passini, bispo de Luziânia (GO), falou sobre origem da celebração do
Mês da Bíblia, um evento que é específico da Igreja no Brasil. Segundo ele, a
semana tem origem com o Domingo da Bíblia, cujo início no Brasil se deu a
partir da 1ª Semana Bíblica Nacional, em 1947. “A partir desta data começou-se
a celebrar o Domingo da Bíblia, sempre no último domingo do mês de setembro.
Neste o mês, dia 30, comemora-se também o dia de São Jerônimo, um grande
conhecedor da Bíblia, exegeta e tradutor da Bíblia para o latim, a vulgata”,
disse.
Depois
do “Domingo da Bíblia”, dom Waldemar lembrou que passou-se a celebrar o Mês da
Bíblia a partir de uma iniciativa pioneira da arquidiocese de Belo Horizonte
(MG) que se expandiu para o regional Leste 2. Em 1976, a celebração do Mês da
Bíblia foi assumida pela CNBB e em todo Brasil. “Inicialmente fazia-se uma
reflexão por temas, depois passou-se à aprofundar os livros da sagrada
escritura”, disse.
Orientações
pastorais para o Mês da Bíblia no contexto da pandemia
O
presidente do regional Centro Oeste da CNBB também falou das orientações
pastorais para realização do Mês da Bíblia este ano em decorrência da pandemia
da Covid-19. O bispo disse que a Igreja no Brasil e a Comissão
Bíblico-Catequética da CNBB estão num tempo de adaptação. “Estamos acompanhando
os dramas e as tragédias das pessoas e de seus familiares e também de coisas
que tocam a vida de nossas comunidades, cidades, país e mundo”, disse.
Dom
Waldemar disse que a Igreja, por ser encarnada nas diferentes realidades, não
pode ficar alheia ao avanço do novo Coronavírus. Contudo, o bispo de Luziânia
disse que isto não significa que ela deve permanecer parada e se ausentar da
reflexão, da oração e dos encontros. Ele
reforçou, por outro lado, que são necessárias adaptações. “Esse ano, diante
desta realidade, imagino que o lugar da oração e reflexão da família já
conquistou espaço. Para o Mês da Bíblia a prioridade deve ser à Palavra de
Deus”, disse.
A
sugestão da Comissão para a Animação Bíblico-Catequética da CNBB é que a
oração, a reflexão e os estudos sejam feitos em família sobre o Livro do
Deuteronômio, tendo o cuidado de adaptar a reflexão às diferentes idades. O
material também, como sugestão da Comissão da CNBB, poderá ser estudado em
grupos de convivência que tenham uma espiritualidade bíblica (amigos, colegas
de trabalho, círculos bíblicos, entre outros). Uma outra sugestão é fazer
encontros à distância pelas plataformas que permitem reuniões online.
Encontros, como este, sugeriu dom Waldemar, podem ser organizados pelas
comunidades e paróquias.
Como
método, dom Waldemar deu duas orientações: a) se ater à leitura contínua do
texto proposto, o que ajuda a entender o contexto no qual está inserida a
história e a oração com o mesmo. Uma opção, aponta, é fazer a leitura orante
com os textos bíblicos sugeridos. Momentos importantes, reforçou dom Waldemar,
são as celebrações da Palavra e as homilias, onde os ministros leigos e
ordenados poderão aprofundar a Palavra de Deus.
Deuteronômio:
o livro de estudo em 2020
Segundo
o bispo, trata-se de um livro de grande importância, citado várias vezes no
Novo Testamento. “Nós precisamos, como sempre para o Antigo Testamento, termos
a referência da leitura cristã. Lemos o Antigo Testamento como Palavra de Deus
para nós, mas temos na mente e no coração o Evangelho de Jesus Cristo e a
teologia do Novo Testamento para nós como um todo. Assim vamos ao livro de
Deuteronômio e vamos encontrá-lo tal como ele se apresenta”, disse.
O
bispo de Luziânia disse que trata-se de um texto de grande importância
teológica porque coloca em seu centro a Lei de Deus. Lei como núcleo primeiro
dado a Moisés e que depois de muito tempo continua falando a seu povo,
estimulando o culto a Deus, mais tarde reconhecido como único e promove
relações de fraternidade entre irmãos e
entre o povo de Israel.
“O
texto nos é dado como último livro do Pentateuco pelo próprio Moisés. Aí nós
encontramos a primeira referência clássica da revelação, sendo Moisés o grande mediador desta revelação
entre Deus e o povo que ele escolheu. Mas temos também no livro a resposta que
o povo eleito deve dar ao seu Deus: ‘a vivência dos mandamentos como resposta à
escolha e aliança estabelecida por Deus com seu povo'”, explicou.
No
núcleo do livro, entre os capítulos 12 ao 16, encontra-se o “Código Deuteronômio”,
um conjunto de preceitos que vai do culto à relações sociais e familiares e a
como lidar com a guerra e com o conflito nas cidades que Israel vai
conquistando. “O livro chama a atenção sobre como usar a lei não apenas para
ocupar a terra mas também para permanecer nela e torná-la fecunda. É um texto
forte que perpassa períodos distintos da história mas sempre com a mesma
teologia: a resposta fiel ao Deus que elegeu Israel, Judá o seu povo“, apontou.
Lema
do Mês da Bíblia
A
irmã Izabel Patuzzo, assessora da Comissão Bíblico-Catequética da CNBB,
aprofundou o lema bíblico escolhido este ano: “Abre tua mão para o teu irmão”
(Dt 15,11). Segundo ela, o lema remete à
questão da solidariedade. A religiosa destacou que o livro fala, especialmente,
do cuidado com três categorias muito importantes para a época aos olhos de
Deus: o estrangeiro, o órfão e a viúva, citados 11 vezes.
“O
órfão, a viúva e os estrangeiros não são do tempo em que o povo recebeu a lei
no deserto e que viveu em tribos. São categorias que aparecem no tempo que já
tinha se constituído o Estado. Já havia guerras e migrações forçadas. O livro
lembra Israel sempre da sua origem e que Deus o escolheu quando era um povo
pobre, escravo e necessitado no Egito. Em decorrência disto, após entrar na terra
prometida, eles deveriam cuidar também para que não houvesse pobres entre
eles”, disse. Irmã Izabel falou do dízimo e de outras práticas que foram
adotadas pelo povo de Israel para não permitir que entre eles existissem
empobrecidos e para que se tornasse um povo, entre o qual, a retidão, a justiça
e a solidariedade acontecessem.
O
subsídio do Mês da Bíblia 2020
O
professor da PUC-PR, frei Ildo falou das temáticas relevantes do livro. Segundo
ele, o livro é organizado como se fossem os últimos discursos proferidos por
Moisés antes de o povo entrar entrar na terra prometida tendo sido conduzido
por Josué. “Temos, no livro, uma série
de leis para que o povo possa viver bem na terra que entrará. Os temas mais
importantes que encontramos em toda a Bíblia também estão presentes no livro do
Deuteronômio”, disse. O primeiro mandamento é que o povo de Israel, ao entrar
na terra prometida, seja um povo que escute a palavra do senhor e a deixe cair
em seu coração. “Jesus ensina, no Novo Testamento, que o amor a Deus precisa se
traduzir em solidariedade aos irmãos”, disse.
Neste
ano, segundo o professor, que foi um dos autores do subsídio de reflexão, o Mês
da Bíblia quer recordar que aquele que quer agradar a Deus não basta se dirigir
ao Senhor mas que é necessário também abrir a sua mão para o irmão. “Na terra
prometida e da promessa, o povo de Deus é chamado a viver uma vida nova, onde a
vida deve prevalecer, neste lugar não deve haver pobres. A terra que o povo
está entrando é a terra do leite e do mel, portanto é a terra da fartura, que é
dom de Deus, e nesse lugar não pode haver a opressão“, disse.
O
biblista apontou que no capítulo 30, um dos textos mais bonitos do livro, entre
os versículos 15 ao 20, há toda uma proposta colocada diante do povo: escolher
entre a vida ou a morte, entre a bênção ou a maldição, etc. O professor lembrou
que é do livro o lema bíblico adotado pela Campanha da Fraternidade de 2008:
“Escolhe, pois, a vida”. A campanha teve como tema “Fraternidade e defesa da
vida”.
“Nós
lemos a Bíblia não apenas para compreendê-la mas para colocá-la em prática. O
livro do Deuteronômio levanta hoje muitos gritos, apelos e clamores. Muitas das
realidades que estamos vivendo hoje se assemelham à realidade que o povo de
Deus passou. Hoje temos uma massa de pessoas empobrecidas. O tema é muito mais
que atual. A questão do acesso à terra também é um tema no livro. A terra que
deve ser partilhada para o sustento dos irmãos. O tema da justiça também: as
leis devem ser para que o povo possa viver. Os pobres, hoje, dificilmente têm
acesso à justiça. Este é um tema que o livro nos convida a refletir e a colocar
em prática também. No Deuteronômio estão os 10 mandamentos. Uma das questões
que se pede é que não se use o nome de Deus em vão. Hoje estamos numa época que
o uso e a banalização do nome de Deus está sendo banalizado, inclusive nos
discursos políticos”, disse.