Informação Especial - 15/12 - O papel da família no cuidado com os jovens

O papel da família no cuidado com os jovens

Padre Lício e família (foto de arquivo) 

    Ter uma família é um direito legítimo e fundamental da criança. Porque é com a família que as crianças aprendem os princípios básicos de convivência e as habilidades necessárias para desenvolver seu potencial como indivíduo e enfrentar a vida de adulto na sociedade.

Padre Licio de Araújo Vale - Vatican News

A família é importante para a pessoa e para a sociedade; é no âmbito familiar que o ser humano recebe as primeiras noções do bem e da verdade, aprende a amar e ser amado e compreende o significado de ser pessoa. Em contrapartida, sem famílias fortes na comunhão e estáveis no seu compromisso, os povos se debilitam; é na família que se aprende as responsabilidades sociais e a solidariedade (CIC, nº 2224).

A família tem uma grande incidência no desenvolvimento emocional e social de todo indivíduo. Os que vivem sem família conhecem dificuldades quase insuperáveis ao longo de sua existência. É esse laço familiar que modela a maneira de pensar, de tomar decisões, a forma de nos comportar e até a perspectiva de vida. Os filhos se sentem amorosamente entrelaçados no amor dos pais, e esse ambiente os define como pessoa. Por isso, a importância da família em seu desenvolvimento.

Ter uma família é um direito legítimo e fundamental da criança. Porque é com a família que as crianças aprendem os princípios básicos de convivência e as habilidades necessárias para desenvolver seu potencial como indivíduo e enfrentar a vida de adulto na sociedade.

É no seio da família que a criança conhece regras de convivência e se prepara emocionalmente para as adversidades do mundo exterior. Nesse longo processo de aprendizado, há todo um esforço em cuidar, amparar, acolher os filhos para que se sintam seguros quando chegar a hora de deixar o “ninho”.

A família é quem define nossos princípios, o que entendemos por certo e errado e, principalmente, como nos relacionaremos com os integrantes de outras famílias. É em nossa casa que aprendemos como administrar nossos sentimentos, e tudo isso influenciará completamente em como será o comportamento de nossa relação conosco, com os outros e com o mundo.

A juventude é uma fase de desenvolvimento humano, é um período de mudanças que ocorrem sobretudo por causa das alterações hormonais no organismo. É um tempo de travessia da infância para a vida adulta e, por isso, um tempo de conflitos, de descobertas, de desafios e de busca da identidade pessoal. É um momento de grandes transformações.

O jovem necessita contar com o apoio da família nesse momento tão decisivo em sua vida. Sem esse apoio, a existência torna-se um momento de sofrimento e exaustão emocional. A família terá como missão nessa fase guiar seu filho ou filha por esse processo de maneira suave, buscando um equilíbrio, pois nem sempre é fácil impor suas opiniões, se omitindo e sendo negligente.

Não existem receitas prontas para lidar com esse momento. A família colabora com o cuidado dos jovens quando os ouve e não desqualifica suas emoções, quando é capaz de estar afetivamente próximo deles, quando é capaz de acolher suas dores e suas rebeldias (entendidas como fase normal do processo de adolescer) e quando lhes impõem limites.

Aqui, penso que precisamos refletir. Parece-me que hoje essa é uma das grandes dificuldades das famílias. Os jovens carecem de limites, precisam ouvir “não”, necessitam aprender a lidar com a frustração. A vida não lhe dará tudo o que querem na hora que quiserem. Muitas famílias perderam a capacidade de ensinar os filhos a enfrentarem uma frustação, por medo de os decepcionarem ou de que fiquem chateados com os pais. Por não saber lidar com as frustações, quando enfrentam a primeira grande frustação na vida, muitos pensam em autoextermínio (suicídio).

Os estudos da Psicologia e da Suicidologia mostram que uma família com uma estrutura funcional sólida e bem delineada atravessa melhor essa fase de turbulência – um fator de proteção para o suicídio entre adolescentes e jovens.

O cuidado dos jovens inclui a importância do autoconhecimento para a construção da identidade pessoal e também a possibilidade de ensinar a amar e ser amado. Aquele que ama verdadeiramente a si mesmo e às pessoas ao seu redor desenvolve qualidades como: humildade, bondade, generosidade, compaixão, entrega, partilha, verdadeiro interesse pelo outro. A família cuida dos jovens quando os ensina que o amor é um dom supremo; ele abraça, integra, acolhe, corrige, perdoa, é gentil e amigável. É paciente, alegre, sorridente, positivo, amigo, companheiro, fraterno.

A juventude é também um período de crise para a família: muitas vezes há falta de diálogo, de escuta atenta, de compreensão do desenvolvimento dos filhos, mas é certo que quanto mais os pais forem abertos para que esses conflitos e contestações sejam vividos no âmbito familiar, mais a família estará colaborando para o amadurecimento do adolescente ou do jovem.

Além disso, é importante lembrar que os pais também passam por dificuldades, pois a expectativas que tinham em relação aos filhos se frustram, há aumento das preocupações, dos riscos, dos erros, dos medos, o que gera insegurança: “Será que eu fiz a coisa certa?”. Em resumo, a crise dos jovens com sua família é uma boa oportunidade para redescobrir novas formas de relacionamento familiar e o ideal é que esse processo seja saudável para todos.

Pe. Licio de Araújo Vale é padre diocesano incardinado na Diocese de São Miguel Paulista- SP, ordenado em 3 de dezembro de 1983; além de Filosofia e Teologia, ele é qualificado em Suicídio em Automutilação pela Unipar e é membro da Associação Brasileira de Estudos e Prevenção ao Suicídio (ABEPS).


Fonte:https://www.vaticannews.va/pt/igreja/news/2020-12/o-papel-da-familia-no-cuidado-com-os-jovens.html