Informação Especial - 18/12 - Papa Francisco: não há paz sem a cultura do cuidado
Papa Francisco: não há paz sem a cultura do cuidado
Na mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2021, o Papa Francisco lança um apelo para que todos se tornem "profetas e testemunhas da cultura do cuidado, a fim de preencher tantas desigualdades sociais.”
- Bianca
Fraccalvieri – Cidade do Vaticano -
Todos
remando juntos no mesmo barco, cujo leme é a dignidade da pessoa e a meta, uma
globalização mais humana.
Em
síntese, esta é a ideia que o Papa Francisco expressa na mensagem para o Dia
Mundial da Paz de 2021, celebrado em 1° de janeiro.
O
texto foi publicado esta quinta-feira pela Sala de Imprensa da Santa Sé, cujo
título é “A cultura do cuidado como percurso de paz”.
Solidariedade
às vítimas da pandemia
A
mensagem não deixa de analisar a marca deste 2020: a pandemia. A crise
provocada pelo novo coronavírus “se transformou num fenômeno plurissetorial e
global, agravando fortemente outras crises inter-relacionadas como a climática,
alimentar, econômica e migratória, e provocando grandes sofrimentos e
incômodos”.
O
pensamento do Pontífice foi às pessoas que perderam um familiar ou uma pessoa
querida ou a quem ficou sem emprego. E um agradecimento especial a quem
trabalha em hospitais e centros de saúde, com um renovado apelo às autoridades
para que as vacinas sejam acessíveis a todos.
Sou
o guardião do meu irmão? Com certeza!
No
longo texto, o Papa faz uma “gênese” da cultura do cuidado desde os primórdios
da criação, como narram vários episódios bíblicos. No Antigo Testamento, talvez
o mais emblemático seja a relação entre Caim e Abel, e a famosa resposta depois
do assassinato: Sou eu, porventura, o guardião do meu irmão? “Com certeza”,
responde o Papa sem pestanejar.
Já
no Novo Testamento, Jesus encarna o ápice da revelação do amor do Pai pela
humanidade. “No ponto culminante da sua missão, Jesus sela o seu cuidado por
nós, oferecendo-Se na cruz e libertando-nos assim da escravidão do pecado e da
morte.”
Esta
cultura do cuidado se aprimorou na Igreja nascente com as obras de misericórdia
corporal e espiritual, que no decorrer dos séculos ficaram visíveis em
hospitais, albergues para os pobres, orfanatos, lares para crianças e abrigos
para forasteiros.
O
Cristianismo, portanto, ajudou a amadurecer o conceito de pessoa, a ponto que
hoje podemos dizer que “toda a pessoa humana é fim em si mesma, e nunca um mero
instrumento a ser avaliado apenas pela sua utilidade: foi criada para viver em
conjunto na família, na comunidade, na sociedade, onde todos os membros são
iguais em dignidade. E desta dignidade derivam os direitos humanos.”
Bússola
para um rumo comum
Se
o ser humano tem direitos, tem também deveres, como o cuidado dos mais
vulneráveis e também da criação.
Para
Francisco, todos esses princípios elucidados na mensagem constituem uma bússola
para dar um rumo comum ao processo de globalização, "um rumo
verdadeiramente humano".
“Através
desta bússola, encorajo todos a tornarem-se profetas e testemunhas da cultura
do cuidado, a fim de preencher tantas desigualdades sociais.”
Aqui
o Papa chama em causa um “forte e generalizado protagonismo das mulheres na
família e em todas as esferas sociais, políticas e institucionais”.
Como
converter nosso coração?
O
Pontífice recorda que esta “bússola dos princípios sociais” vale também para as
relações entre as nações. E pede o respeito pelo direito humanitário em
conflitos e guerras. “Infelizmente, constata o Santo Padre, muitas regiões e
comunidades já não se recordam dos tempos em que viviam em paz e segurança.”
“As
causas de conflitos são muitas, mas o resultado é sempre o mesmo: destruição e
crise humanitária. Temos de parar e interrogar-nos: O que foi que levou a
sentir o conflito como algo normal no mundo? E, sobretudo, como converter o
nosso coração e mudar a nossa mentalidade para procurar verdadeiramente a paz
na solidariedade e na fraternidade?”
Mais
uma vez o Santo Padre lamenta o desperdício de dinheiro com armamentos, quando
poderia ser utilizado “para prioridades mais significativas”, relançando a
ideia de São Paulo VI de criar um “Fundo mundial” com a utilização dos recursos
da corrida armamentista para o desenvolvimento dos países mais pobres.
Outro
elemento fundamental para a promoção da cultura do cuidado é a educação. Neste
projeto, estão envolvidos famílias, escolas, universidades e os líderes
religiosos. Francisco se dirige a quem trabalha neste campo “para que se possa
chegar à meta duma educação «mais aberta e inclusiva”, fazendo votos de que
neste contexto o Pacto Educativo Global “encontre ampla e variegada adesão”.
Não
há paz sem a cultura do cuidado
Toda
a mensagem do Pontífice, enfim, é estruturada para afirmar o princípio de que
não há paz sem a cultura do cuidado.
“Neste
tempo, em que a barca da humanidade, sacudida pela tempestade da crise, avança
com dificuldade à procura dum horizonte mais calmo e sereno, o leme da
dignidade da pessoa humana e a «bússola» dos princípios sociais fundamentais
podem consentir-nos de navegar com um rumo seguro e comum. Como cristãos,
mantemos o olhar fixo na Virgem Maria, Estrela do Mar e Mãe da Esperança.”
“Não
cedamos à tentação de nos desinteressarmos dos outros, especialmente dos mais
frágeis”, é o apelo final do Papa.